Bom, aproveito e convido você para uma breve reflexão. Se não houve pretos, nas terras de Ajuricaba, o porquê da existência de bairros que concentram grande quantidade populacional negra, como Praça 14 de Janeiro e Morro da Liberdade, que ainda cultivam culturas e costumes dos seus antecessores? E a grande concentração de terreiros das mais variadas nações, oriundos de casas tradicionais? Onde está Joana Galante e Mãe Zulmira? Quem foi o governador negro que tivemos? Eduardo Ribeiro? Quem foi Nestor Nascimento? Como, quem, quando, onde? Essas são algumas das perguntas que faço quando passeio pela bela “Paris dos Trópicos”.
Outro dia me deparei com a seguinte noticia: Governo reconhece cinco comunidades remanescentes de quilombos em Barreirinha. Ué, se nunca existiu negros nessa região, como existem remanescentes de quilombos? Se existem remanescentes não é pelo fato de ter existido quilombo? E quilombos não são comunidades de resistência? Têm-se focos de resistência, não seria porque existiram opressão e submissão de algum modo?
Pois é, para quem não sabe no estado temos mais de 15 municípios, até o momento, com focos de populações quilombolas, bem como a comunidade do Tambor, no município de Novo Airão, primeira reconhecida pelo Governo Federal.
Na verdade muitos se questionam ou até mesmo afirmam que o Amazonas não teve e, de certa forma, não tem contribuição negra na formação deste povo. Um dos motivos, em minha opinião, é a grande concentração de etnias indígenas na região, o que nos faz achar que, o amazonense descende apenas desse grupo étnico. Por outro lado, a falta de mais estudos e pesquisas para desmistificar tal afirmação ainda é reduzida, do ponto de vista acadêmico. Como bem coloca a professora Patrícia Sampaio no Livro “O fim do Silêncio”, “contudo, em se tratando de Amazônia e, mais particularmente, do Amazonas, estamos diante de um tema muito pouco frequentado pelos estudiosos. Um silêncio persistente que insiste em apagar memórias, histórias e trajetórias de populações muito diversificadas que fizeram desta região seu espaço de luta e sobrevivência. Esta é uma divida de muitas gerações que ainda reclama a sua paga…”.
Por tudo isso, é preciso contar e escrever uma nova história. Não a esquecida, mas aquela que esteve apagada. É preciso romper a barreira do silêncio e fazer ecoar o grito daqueles que até então, estavam calados. É preciso dar um urro de liberdade e quebrar as correntes que ainda prendem e negam o saber da sua origem. É preciso contar o que os ancestrais nos ensinaram através da oralidade, repassados aos seus filhos, netos e assim por diante.
É preciso falar de Luiz Fernando, de Mãe Emília, de Gláucio da Gama, de Arlete Anchieta, de Elizangela Almeida, de Cristiano Correa, de Juarez Silva, de Nonata Freitas, de Emanuel Medeiros, de Sidney Barata, de Nonata Correa, de Índia Nevez, de outros Zumbis e Dandaras que se mantêm fortes, para que acordemos com manhãs escritas e pintadas, com a cor da liberdade.
São por essas razões, que Manaus tem muito a dizer, não somente nesse novembro. Mas todos os dias sobre “os invisíveis numa terra de gente morena”.
“Até que os leões tenham suas histórias, os contos de caça glorificarão sempre o caçador”
-Provérbio africano-
Por Maick Soares
dez
2013
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